quarta-feira, 16 de maio de 2007


Escrevo cartas que você nunca vai ler. Comecei meio que por acaso: certa vez você brigou comigo e contei a um amigo, que me sugeriu escrever. Assim eu me acalmaria e ainda riria de tudo depois que as coisas voltassem ao normal. O fato é que nunca voltaram. Ou talvez estarmos afastados é que fosse o normal. Mas as cartas nunca pararam – ou melhor, eu não parei com elas. Escrevo e deixo perdidas entre os papéis espalhados pela casa. Normalmente são feias, feitas num papel qualquer, com letra preguiçosa, cheias de rasuras: são rascunhos, afinal.
É engraçado que não se esgotem. Talvez sejam repetitivas, não sei. Falam de sentimentos que tentei demonstrar tantas vezes, de mágoas, de pequenas e grandes lembranças, da falta que você me faz. Não me fazem rir e não tenho mais do que me acalmar. Por que ainda escrevo? Acreditaria eu, secretamente, que chegaria o dia de entregá-las, todas, a você? Sonharia com o dia do encontro, o dia em que eu finalmente descobriria que o normal não era estarmos tão longe ?
Você pode não acreditar, mas não tenho essas respostas. Pelo menos não ainda. Sigo tentando não pensar muito, ou pelo menos equilibrar o que penso e o que sinto (mas não sei se consigo). Enquanto isso, escrevo. Apesar disso, escrevo. É minha única certeza. Sempre.

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